
Entre muitos aspectos, os atentados terroristas cometidos pelos chamados “lobos solitários” refletem uma sociedade que valoriza as celebridades. Mais ainda, a sociedade que adotou como parâmetro a valorização da intenção de repercussão, seja por meio do aplauso, das curtidas ou da ideia – equivocada – da busca pela espetacularização dos próprios atos. O Estado Islâmico não apenas entendeu esta lógica profundamente, mas é possível que seus membros sejam agentes nas duas pontas: manipulam as redes sociais e o vazio dos que se consideram irrelevantes e perseguem a qualquer custo a inserção neste mundo vazio da celebrização; mas também os próprios terroristas são eles mesmos manipulados por esta lógica. Há neste ponto o processo de retroalimentação permanente entre a busca por mais seguidores, mais terroristas, mais vazios e mais atos que repercutam.
A lógica listada acima dificulta a interrupção do ciclo de violência. Na sociedade de consumo e das celebridades, grupos como o Estado Islâmico sempre encontrarão interessados em espetacularizar a própria existência – para muitos, vazia de significados. É aqui também que reside uma das mais importantes diferenças entre o grupo e a al-Qaeda, a rede terrorista da qual o EI se separou e da qual se origina. Esta separação marca o nascimento do terrorismo da segunda metade do século 21. Os membros do EI e da própria al-Qaeda não são seres alheios ao restante dos fenômenos mundiais, mas profundamente inseridos no contexto em que vivem. Há entre eles a diferenciação mais ampla da mudança geracional. A vocação para usar as redes sociais e torná-la ferramenta fundamental para a propagação do fundamentalismo islâmico é inerente aos terroristas da geração Y. É impossível não levar este fator em consideração diante das evidências e do terrível uso que o EI faz da internet.
Outro aspecto que favorece a multiplicação de atos como este é a facilidade de adesão. O porta-voz do Estado Islâmico, Abu Muhammad al Adnani, já repetiu que não é preciso “pedir autorização de ninguém (para cometer atos terroristas)”. Ou seja, para transformar uma vida “sem significado” num ato de barbárie chancelado pelo grupo terrorista mais conhecido no mundo basta a autodenominação como membro. Não é preciso cumprir etapas, participar de treinamentos ou se meter em algum recanto perdido no Oriente Médio, Ásia ou África. Basta a intenção, basta jurar fidelidade. Não há burocracias. Para dar significado a uma “vida vazia” é suficiente realizar o ato.
Esta lógica que seduz jovens deprimidos e/ou repletos de ódio no Ocidente encontra no acesso fácil – e legal – a um fuzil AR-15 a concretização de um projeto que, se não fosse por esta facilidade, talvez não passasse de um ressentimento sem maiores consequências.