
O assunto ficou meio esquecido - por razões óbvias -, mas já sabemos que os dois concorrentes estão definidos. Joe Biden, pelo partido Democrata, e Donald Trump, pelo partido Republicano, que busca a reeleição. Neste processo, Biden já precisa enfrentar - para além dos métodos peculiares aplicados pela equipe envolvida na campanha de Trump, como ocorreu em 2016 - acusações de assédio sexual por parte de Tara Raede, ex-funcionária de seu gabiente no período em que foi senador. O assédio teria ocorrido enquanto ela trabalhava com Biden em 1993. Biden nega.
O fato é que a acusação é forte. Especialmente a um candidato Democrata. Por enquanto, mulheres importantes do partido e do cenário político norte-americano permanecem ao lado do ex-vice-presidente. A ex-secretária de Estado e última candidata Democrata à presidência, Hillary Clinton, deu apoio público ao colega. O mesmo ocorreu com a ex-candidata a governadora do estado da Geórgia Stacey Abrams. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, seguiu o mesmo caminho.
O caso de Stacey Abrams é especial. Em março, Joe Biden prometeu escolher uma mulher para concorrer como vice-presidente em sua chapa. Abrams é uma das principais apostas para preencher a vaga.
Mas a denúncia contra Biden pode vir a ser um problema mais sério. Se ganhar força e se novos elementos vierem à tona, a base feminina de apoio ao candidato Democrata pode ficar dividida. Ainda mais neste momento político. Mas não se pode afastar a possibilidade de ser escolhido um caminho de pragmatismo. Afinal de contas, num processo eleitoral bipartidário, há outros aspectos a se considerar. Principalmente porque há polarização nos EUA também. E a alternativa a Biden é, de forma muito prática, conferir mais um mandato de quatro anos a Trump. Este é um fato que certamente será considerado central no processo de tomada de decisão pelo eleitorado.
Neste momento, a situação do atual do presidente Trump não está lá das melhores. Mesmo tendo alcançado a melhor avaliação de seu governo, de acordo com o instituto de pesquisa Gallup (49%). Mas isso não se reverte em apoio capaz de, neste momento, virar o jogo na corrida presidencial de novembro.
Pesquisa do USA Today/Suffolk apresenta cenário negativo a Trump. De acordo com a pesquisa, Joe Biden lidera por dez pontos percentuais (50% a 40%), uma reviravolta em relação a dezembro, quando o atual presidente vencia Biden por três pontos.
Mesmo em relação à aprovação, os levantamentos não são unânimes. De acordo com pesquisa da Rasmussen, o quadro é bem diferente ao que apresentei acima (o estudo do Gallup). Para a Rasmussen, a desaprovação a Trump supera a aprovação em dez pontos (54% a 44%).
A questão é que Trump está mais exposto do que nunca. Se obtivesse boa avaliação do eleitorado quanto ao modo como conduz o país neste período de crise, a eventual aprovação poderia tornar mais tranquilo seu caminho em busca da reeleição. A superexposição, portanto, pode ser considerada uma benção ou uma maldição, a depender da habilidade do governante nesses tempos de crise e desafios sem precedentes.
Como este espaço analisa com frequência as questões do Oriente Médio, faço paralelo com Israel, onde o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu conseguiu aumentar sua popularidade neste momento - apesar de investigado por corrupção -, caminhando para encerrar o impasse político no país.
Donald Trump e também Jair Bolsonaro são bons exemplos de resultados opostos. Ambos parecem pouco interessados em deixar de perder qualquer oportunidade de deixar de errar.